O Homem em Seu Estado Caído

homem-caidoOuvimos muito nos dias atuais sobre a dignidade da natureza humana. E é consenso que o homem era uma criatura excelente da forma como saiu das mãos de Deus; mas se considerarmos esta questão tendo em vista o homem caído, depravado pelo pecado, como podemos então juntar-nos com o salmista ao admirar que o grande Deus deva fazer qualquer consideração dele? 

 O homem é caído de seu estado original de felicidade e santidade; suas faculdades e habilidades naturais dão provas suficientes de que a mão que o fez é divina. Ele é capaz de grandes coisas. Seu entendimento, vontade, sentimentos, imaginação e memória são surpreendentes e nobres faculdades. Mas vê-lo sob uma luz moral, como um ser inteligente, incessantemente dependente de Deus, responsável diante dEle, e nomeado por Ele para um estado de existência em um mundo imutável, considerando essa relação, o homem é um monstro, um vilão, uma degradante, estúpida, obstinada e maliciosa criatura; nenhuma palavra pode descrevê-lo completamente. O homem, com toda a ostentação de seu entendimento e capacidades, é um tolo: enquanto ele é destituído da graça salvadora de Deus, sua conduta, quanto aos seus mais importantes interesses, são mais absurdos e inconsistentes do que a do pior estúpido; com relação a suas afeições e ocupações, ele é degradado em um estado muito abaixo dos animais; e para malignidade e maldade de sua vontade, pode ser comparado a nada tão adequadamente como o próprio diabo. 

 A questão aqui não é sobre este ou aquele homem, um Nero ou um Heliogabalus (N.T.: imperador romano que reinou de 218 a 222 d.C), mas sobre a natureza humana, toda a raça humana, a exceção dos poucos que nascem de novo, de Deus. Há de fato uma diferença entre os homens, mas é devido às restrições da Divina Providência, sem o qual a terra seria a própria imagem do inferno! Um lobo ou um leão, enquanto preso, não pode fazer mal tanto quanto se estivessem soltos, mas a natureza é a mesma em todas as espécies. Educação e interesse, medo e vergonha, as leis humanas, e o poder secreto de Deus sobre a mente, se combinam para formar muitas características que são externamente decentes e respeitáveis; e mesmo os mais degradados estão sob uma restrição que impede a manifestação de uma milésima parte da maldade que está em seus corações. Mas o próprio coração é universalmente enganoso e perverso. 

 O homem é um tolo. Ele pode de fato medir a terra e quase contar as estrelas; ele é rico em artes e invenções na ciência e na política; e então ele deve ser chamado de tolo? Os pagãos antigos, os habitantes do Egito, Grécia e Roma, eram eminentes para este tipo de sabedoria. Eles são até hoje estudados como modelos por aqueles que visam a excelência na história, poesia, pintura, arquitetura e outras aplicações do gênio humano, que são adequados para refinar as maneiras sem melhorar o coração. Mas os seus mais admirados filósofos, legisladores, lógicos, oradores e artistas, eram destituídos como idiotas ou crianças do conhecimento que por si só merece o nome de verdadeira sabedoria. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. Ignorantes e sem terem consideração de Deus, ainda conscientes de sua própria fraqueza e de sua dependência de um poder acima de si, e estimulados por um princípio de medo interno, do qual eles não sabiam nem a origem nem a aplicação certa, eles adoravam a criatura em vez de o Criador, sim, depositaram sua confiança em paus e pedras, nas obras das mãos dos homens, em entidades inexistentes e quimeras. Uma familiaridade com sua mitologia, ou fábulas religiosas passa para nossa geração, em um ramo considerável da área de aprendizagem, porque é extraída de livros antigos, escritos em línguas não conhecidas do popular; mas no ponto de vista da verdade, pode-se receber outro tanto com satisfação de uma coleção de sonhos, ou dos delírios de loucos. Se, portanto, admitimos estes admirados sábios como um espécime tolerável da humanidade, não devemos confessar que o homem, em sua melhor condição, enquanto não instruído pelo Espírito de Deus é um tolo? Mas será que somos mais sábios do que eles? Nem um pouco, até que a graça de Deus nos faça assim. Nossas vantagens superiores apenas mostram a nossa loucura em uma luz mais evidente. Porque consideramos todas as pessoas tolas? Um tolo não tem bom senso; ele é governado inteiramente pelas aparências, e prefere um casaco fino a escritura de uma grande propriedade. Ele não considera as consequências. Tolos, por vezes ferem ou matam os seus melhores amigos, ainda que eles não lhes façam mal algum. Um tolo não pode raciocinar, portanto, argumentos são vãos para ele. Ao mesmo tempo, se amarrado como um feixe de palha, não ousa se mexer; em outro momento, talvez, ele dificilmente pode ser persuadido a se mover, embora a casa estivesse pegando fogo. São estas as características de um tolo? Então, não há tolo como o pecador, que prefere os bens da terra em vez da felicidade do céu, que permanece em cativeiro pelos costumes do mundo, e tem mais medo da respiração do homem do que da ira de Deus. 

 Novamente, o homem em seu estado natural é uma besta, sim, abaixo dos animais que perecem. Em duas coisas que ele se parece muito com elas: em buscar a gratificação pessoal, e em que o egoísmo de espírito o leva a propor a si mesmo que seu próprio interesse deve ser o seu propósito maior de existir. Mas em muitos aspectos, infelizmente, ele afunda ainda mais abaixo delas. Paixões carnais, e a falta de afeição natural em relação a seus filhos, são abominações não encontradas entre a criação. Que diremos de mães destruindo seus filhos com suas próprias mãos, ou do ato horrível de suicídio! Os homens, da mesma forma, são piores que os animais na sua obstinação; não são alertados do perigo. Se um animal escapa de uma armadilha ele vai ser cauteloso ao se aproximar de novo do mesmo local, e em vão se estende a rede à vista de qualquer ave. Mas o homem, ainda que seja muitas vezes repreendido, endurece a cerviz; ele corre para sua ruína com os olhos abertos, e podem desafiar a Deus diante da sua face, bem como a condenação. 

 Mais uma vez, vamos observar como o homem se assemelha ao diabo. Há pecados espirituais e estes, por sua preponderância, a Escritura ensina-nos a julgar o caráter de Satanás. Cada aspecto nesta descrição é marcante no homem; assim então o que o Senhor disse aos judeus é de aplicação geral, "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai". O homem lembra Satanás no orgulho; esta estúpida e fraca criatura valoriza-se sobre a sua própria sabedoria, poder e virtude e fala de ser salva por suas boas obras; entretanto se ele pode, o próprio Satanás não precisa se preocupar. O homem se parece com ele na malícia. E esta disposição diabólica muitas vezes precede ao assassinato, e diariamente, se o Senhor não restringi-lo. Ele deriva de Satanás o odioso espírito de inveja. Ele é frequentemente atormentado além da conta, por contemplar a prosperidade de seus vizinhos; e proporcionalmente satisfeito com suas calamidades, embora ele não tenha nenhuma outra vantagem do que a satisfação desse rancoroso princípio. Ele descobre a imagem, da mesma forma, de Satanás em sua crueldade. Esse mal está ligado mesmo no coração de uma criança. Uma disposição em ter prazer ao afligir aos outros a dor aparece muito cedo. Filhos, se deixados aos seus próprios cuidados, logo sentem uma satisfação em torturar insetos e animais. Que miséria é a crueldade arbitrária que os homens infligem nas criaturas, que parecem pensar que foram formados para nenhum fim senão para deleitar o seu espírito selvagem com seus tormentos! Se formamos nosso julgamento dos homens, quando parecem mais satisfeitos, e não têm nem raiva nem ressentimento para pleitear em sua defesa, é por demais evidente, mesmo na natureza de seus divertimentos, quem eles são e quem eles servem; e são o pior dos inimigos uns dos outros. Pense nos horrores da guerra, a raiva de duelistas, dos assassinatos com a qual o mundo está cheio, e depois dizer: "Senhor, o que é o homem!" Além disso, se o engano e traição pertencem ao caráter de Satanás, então certamente o homem se assemelha ele. Não é a observação universal, e denúncia de todas as eras, um comentário emocionante sobre as palavras do profeta: "Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca" ? Como muitos, neste momento, têm motivo para dizer com Davi, "As palavras da sua boca eram mais macias do que a manteiga, mas havia guerra no seu coração: as suas palavras eram mais brandas do que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas". Mais uma vez, como Satanás, os homens estão ansiosos em tentar outros para o pecado; para condenar, eles empregam toda a sua destreza e influência para atrair tantos quantos podem com eles para a mesma destruição. Por fim, em oposição direta a Deus e a bondade, em desprezível inimizade ao Evangelho de Sua graça, em um amargo espírito perseguem àqueles que o professam; o próprio Satanás dificilmente pode excedê-los. Aqui, na verdade eles são seus agentes e servos dispostos; e porque o abençoado Deus está fora de seu alcance, eles trabalham para mostrar o seu ressentimento a Ele nas pessoas do Seu povo. 

 Eu tirei, salvo um esboço, alguns contornos da imagem do homem caído. Para se ter uma cópia exata dele, para encher cada traço com o pleno agravamento de horror, e pintá-lo como ele é, seria impossível. O suficiente tem sido observado para ilustrar a propriedade da exclamação: "Senhor, o que é o homem!". Talvez alguns dos meus leitores possam negar ou atenuar a acusação, e podem alegar que não tenha descrito a humanidade, mas alguns dos mais famigerados, que mal merecem serem chamados pelo nome de "homens". Mas eu já me preparei contra esse protesto. É a natureza humana que eu descrevo; e os indivíduos mais vis e mais perdulários não podem pecar além dos poderes e limites dessa natureza que eles possuem em comum com o mais brando e moderado. Embora possa haver uma diferença na fecundidade das árvores na produção de uma maçã, a natureza da árvore decide sobre essa maçã que cresceu, tão certa como se tivesse produzido mil: assim, no presente caso, deveria ser entendido que essas atrocidades não podem ser encontradas em todas as pessoas, seria então uma confirmação suficiente do que eu já disse; se eles podem ser encontrados em qualquer um; a menos que possa ser igualmente provado, que os que pareceram ser piores do que outros eram de uma espécie diferente do resto. Mas eu não preciso fazer esta concessão; devem ser insensíveis ao fato que não sentem algo dentro de si tão contrário às nossas noções comuns de bondade, como seria talvez torná-los antes submissos para serem banidos da sociedade humana, do que ser obrigado a ser autêntico para divulgar a seus semelhantes cada pensamento e desejo que surge em seus corações. 

 A natureza do homem caído concorda com a descrição que o apóstolo nos deu de sua orgulhosa sabedoria: é terrena, animal e diabólica. Tentei algum esboço geral dela na carta anterior, mas o tamanho de sua maldade não pode ser adequadamente medido, a menos que consideremos as suas ações sob a luz do Evangelho. Os judeus eram extremamente perversos no tempo da aparição de nosso Senhor sobre a terra, mas Ele lhes disse: "Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado", isto é, como a luz e a força do seu ministério os despojou de todas as desculpas para continuar no pecado, assim Ele deu provas na ocasião ao mostrar a maldade deles de uma forma mais agravada; e todos os seus outros pecados foram provas fracas do verdadeiro estado de seus corações, se comparado com a descoberta que fizeram de si mesmos, pela sua oposição pertinaz a Ele. Neste sentido, o que o apóstolo observou na lei de Moisés pode ser aplicado ao Evangelho de Cristo: ele entrou, onde o pecado abundava. Se quisermos estimar o esforço máximo da depravação humana, e os mais fortes efeitos que ela é capaz de produzir, devemos selecionar os nossos exemplos da conduta daqueles de quem o Evangelho é conhecido. Os índios, que assam os seus inimigos vivos, dão prova suficiente de que o homem é bárbaro com a sua própria espécie; o que pode também ser facilmente demonstrado sem ir tão longe de casa; mas a pregação do Evangelho descobre a inimizade do coração contra Deus, em formas e graus dos quais selvagens não esclarecidos e pagãos não são capazes de equiparar. 

 Pelo Evangelho, não quero apenas dizer a doutrina da salvação, como que está na Sagrada Escritura, mas esta pública e autorizada aplicação desta doutrina, que o Senhor Jesus Cristo comissionou a seus verdadeiros ministros; que, tendo sido eles próprios, pelo poder da sua graça, tirados das trevas para a Sua maravilhosa luz, são, pelo seu Espírito Santo qualificados e enviados a declarar a seus companheiros pecadores o que viram e sentiram, e provaram da palavra da vida. Sua comissão é exaltar o Senhor somente, denegrir a soberba de toda a glória humana. Eles expõem o mal e demérito do pecado, o rigor, a espiritualidade e a sanção da lei de Deus, a apostasia total da humanidade, e dessas premissas demonstrarem a absoluta impossibilidade de escapar um pecador da condenação por quaisquer obras ou empreendimentos próprios, e, em seguida, proclamar a plena e livre salvação do pecado e da ira, pela fé no nome, sangue, obediência e mediação de Deus manifestado na carne; juntamente com uma denúncia da miséria eterna a todos que finalmente rejeitarem o testemunho que Deus deu de seu Filho. Embora estes vários ramos da vontade de Deus em relação aos pecadores, e outras verdades em conexão com eles, são claramente reveladas e repetidamente inculcadas na Bíblia, e que a Bíblia possa ser encontrada em quase todas as casas, ainda a vemos, de fato, como um livro selado, pouco lido, pouco compreendido e, portanto, pouco considerado, exceto nos lugares em que o Senhor tem o prazer de favorecer os ministros que podem confirmá-los de sua própria experiência, e que, por um senso de seu amor que nos constrange, e o valor das almas, são animados para tornar o desempenho fiel de seu ministério o negócio maior de suas vidas: que objetivam não possuir riquezas, mas promover o bem-estar dos seus ouvintes; são de igual modo independentemente das reprovações ou sorrisos do mundo, a não considerarem suas preciosas vidas, de modo que eles podem ser sábios e bem sucedidos em ganhar almas para Cristo. 

 Quando o Evangelho, neste sentido da palavra, chega pela primeira vez a um lugar, embora as pessoas estejam em pecado, o que pode ser dito ignorantes para o pecado, eles ainda não foram avisados ​​do perigo que correm. Alguns estão bebendo iniquidade como água; outros mais sobriamente, enterram-se vivos nos cuidados e negócios do mundo; outros acham um pouco de tempo para o que eles chamam de deveres religiosos, e perseveram nisso, apesar de serem estranhos à natureza absoluta ou ao prazer do culto espiritual, em parte, como eles pensam que barganhar com Deus faça reparação por pecados que eles não se arrependeram; e em parte porque satisfaz seu orgulho, e oferece a eles (como pensam) algum terreno para dizer "Deus, graças te dou porque não sou como os outros homens". O Evangelho pregado declara a vaidade e perigo desses vários caminhos que os pecadores optam por andar. Ele declara, e demonstra que, como eles parecem diferentes uns dos outros, são igualmente remotos do caminho da segurança e paz, e todos tendem para o mesmo ponto, a destruição daqueles que persistem neles. Ao mesmo tempo oferece contra esse desespero em que os homens estariam de outra forma mergulhados, quando convencidos de seus pecados, a revelação do imenso amor de Deus, a glória e graça de Cristo, e convida todos a irem a Ele, para que possam obter perdão, vida e felicidade. Em uma palavra, ele mostra o abismo do inferno sob os pés dos homens, e abre o portão e aponta o caminho para o céu. Vamos agora resumidamente observar os efeitos que ele produz em quem não o recebe como o poder de Deus para a salvação. Estes efeitos são diversos, como os ânimos e as circunstâncias variam; mas todos eles podem nos levar a adotar exclamação do Salmista: "Senhor, que é o homem!" 

 Muitos dos que ouviram o evangelho uma vez ou algumas vezes, não o ouvirão mais; ele desperta seu desprezo, ódio e raiva. Eles derramam o desprezo sobre a sabedoria de Deus e a sua bondade, desafiam seu poder e sua própria aparência expressa o espírito dos judeus rebeldes, que disseram ao profeta Jeremias: "Quanto à palavra que nos anunciaste em nome do SENHOR, não obedeceremos a ti". Os ministros que pregam isso, são considerados homens que transtornam o mundo, o deixam cabeça para baixo; e as pessoas que o recebem, tolos ou hipócritas. A palavra do Senhor é um fardo para eles, e eles a odeiam com um ódio perfeito. Quão forte é a disposição do coração natural manifestado, pela confusão que muitas vezes ocorre nas famílias, onde o Senhor tem o prazer de despertar um ou dois em uma casa, enquanto o restante permanece em seus pecados! Professar, ou até mesmo ser suspeito de ter ligação com o Evangelho de Cristo, é frequentemente considerado e tratado como o pior dos crimes, o suficiente para cancelar os mais fortes laços de afeição ou amizade. Pais, considerando tal como uma provocação, vão odiar os filhos, e filhos irão ridicularizar os seus pais: muitos acham agradável a declaração de nosso Senhor, que apartir do momento em que o sentido de seu amor envolveu seus corações para amá-lo, seus piores inimigos se tornaram os de sua própria casa; e que os que expressaram o maior amor e carinho para eles antes de sua conversão, agora mal podem suportar vê-los. 

 A maior parte do povo, talvez, continuará a ouvir, pelo menos agora e depois; e para aqueles que o fazem, o Espírito de Deus, geralmente, em um momento ou outro, levará o testemunho da verdade: as suas consciências são atingidas, e por um tempo eles creem e tremem. Mas o que é a consequência? Nenhum homem que tomou veneno procura mais intensamente ou rapidamente um antídoto, que os faça alguma coisa para abafar e sufocar suas convicções. Eles correm para o mundo, para beber, para fazer qualquer coisa, para ter alívio contra a indesejável intrusão de pensamentos graves; e quando eles tiverem sucesso, e recuperarem sua indiferença anterior, eles se alegram como se tivessem escapado de algum grande perigo. O próximo passo é ridicularizar as suas próprias convicções, e depois disso, se vê alguns de seus conhecidos sob as mesmas impressões, usam de todos os artifícios, e envidam todos os esforços, para que possam torná-los tão obstinados quanto a si mesmos. Para este fim, eles observam como um caçador para o pássaro, lisonjas ou insultos, ameaças ou tentações, e se eles podem prevalecer, e tem a ocasião de "endurecer a alguém em seus pecados", eles se regozijam e triunfam como se considerassem isso seu interesse e sua glória levar à ruína as almas de seus semelhantes. 

 Ao ouvir frequentemente, eles recebem mais luz. Eles são compelidos a saber, quer aceitem ou não, que a ira de Deus paira sobre os filhos da desobediência. Eles carregam uma picada em suas consciências, e às vezes sentem-se mais miseráveis, e não podem, mas gostariam que nunca tivessem nascido, ou que tivessem sido cães ou sapos, ao invés de criaturas racionais. No entanto, eles se endurecem ainda mais. Eles aparentam ser felizes e à vontade e forçam sorrisos quando presos a angústia em seus corações. Blasfemam o caminho da verdade, ficam atentos as falhas dos pastores, e com uma alegria maliciosa as publicam e agravam. Eles veem talvez como morre o ímpio, mas não são alarmados; veem como os justos morrem, mas não são movidos. Nem providências nem ordenanças, misericórdias, nem julgamentos, podem pará-los, pois eles estão determinados a continuar e perecer com os olhos abertos, ao invés de submeter-se ao Evangelho. 

 Mas nem sempre abertamente rejeitam as verdades do Evangelho. Alguns que professam o aprovar e o receber, assim o fazem para descobrir os males do coração do homem, se possível, em uma luz ainda mais forte. Eles fazem de Cristo o ministro do pecado, e transformam a sua graça em libertinagem. Como Judas, eles dizem: Salve, Mestre! E o traem. Este é o mais alto grau de iniquidade. Eles pervertem todas as doutrinas do Evangelho. Da eleição eles tiram uma desculpa para continuar em seus maus caminhos; e discutem a salvação sem as obras, porque não amam a obediência. Eles exaltam a justiça de Cristo, mas mantém oposição a santidade pessoal. Em uma palavra, porque ouvem que Deus é bom, eles determinam a persistir no mal. "Senhor, que é o homem!" 

 Assim, os pecadores impenitentes intencionais vão de mal a pior, enganando e sendo enganados. A palavra que eles desprezam torna-se para eles um cheiro de morte para a morte. Eles tomam rumos diferentes, mas todos estão viajando até a cova, e, a menos que se interponha a soberana misericórdia, em breve cairão para não levantar mais. O evento final é normalmente duplo. Muitos, depois de terem sido mais ou menos abalados com a palavra, se estabelecem em formalidade. Se ouvir desse lugar a fé, amor e obediência, eles fariam bem, mas aos poucos eles se tornam à prova do sermão: as verdades que uma vez feriu perdem o seu poder, sendo muitas vezes ouvida, e, assim, multidões vivem e morrem na escuridão , embora a luz há muito tempo brilhou ao redor deles. Outros são mais abertamente dados a um sentimento perverso. Desprezando o Evangelho tornam-se infiéis, deístas e ateus. Eles são cheios de um espírito de ilusão para acreditar em uma mentira. Estes são escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências; pois onde os princípios da religião são abandonados, a conduta será vil e abominável. Tais pessoas zombam com suas dissimulações, e fortemente provam a verdade do Evangelho, enquanto contendem contra ele. Nós encontramos frequentemente pessoas desse tipo, que já tiveram fortes convicções, mas quando o espírito maligno sai por um tempo e retorna novamente, o último estado desse homem é pior que o primeiro. 

 Não é improvável que alguns dos meus leitores podem encontrar-se com seus próprios personagens sob um ou outro dos pontos de vista que tenho dado da maldade desesperada do coração, em suas ações contra a verdade. Que o Espírito de Deus os leve a ler com atenção. Seu caso é perigoso, mas eu espero não estar totalmente desesperado — Jesus é poderoso para salvar. Sua graça pode perdoar as mais graves ofensas, e subjugar os mais inveterados hábitos de pecado. O Evangelho que você até aqui desprezou, resistiu, ou se opôs, ainda é o poder de Deus para a salvação. O sangue de Jesus, sobre o qual você até agora têm pisado, fala melhores coisas do que o sangue de Abel, e é a virtude para purificar aqueles cujos pecados são escarlate e carmesim, e torná-los brancos como a neve. Ainda que você até agora seja poupado, é hora de parar, para baixar seus braços de rebelião, e humilhar-se a seus pés. Se você fizer isso, você pode ainda escapar, mas se não, com absoluta certeza, a ira virá sobre você com toda a sua força, e você vai encontrar logo, a sua consternação indizível, que é uma coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo. 

 

john-newton