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Encarnação: Evangelização por Proximidade

Depois de muita polêmica, o Brasil assinou um acordo com o governo do Japão para a adoção, no país, do padrão japonês de televisão digital, batizado de SBTVD-T (Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre). A expectativa é de que em sete anos a nova tecnologia alcance todo o país e que em 10 anos todas as transmissões de tv sejam digitais.

A implantação deve começar pela cidade de São Paulo, onde o Mackenzie já realiza testes reais para as emissoras e para o governo. Em seguida, ela chegará às demais capitais, e depois ao interior do país. Nesse período, o governo pretende investir cerca de R$ 10 bilhões por ano, até somar R$ 100 bilhões.

Dos três modelos em disputa (americano, europeu e japonês), havia uma divisão no próprio governo, uma vez que parte da administração preferia o padrão europeu. O principal argumento estava nas condições de negócios, uma vez que o padrão europeu já é utilizado em 57 países, enquanto o escolhido existe apenas no próprio Japão.

Guarde essa data, leitor, pois ela marca a entrada do Brasil em um novo tempo de comunicação. Refiro-me ao ponto de vista tecnológico, claro, pois não há indício de que a “lógica do mercado” tenha mudado. Eu explico.

Como se sustenta a mídia brasileira? A resposta é: sustenta-se no mercado. A televisão (ou o rádio) só mantém um programa no ar se as inserções comerciais o pagarem. Por seu lado, o programa tem que dar “ibope”, para que os comerciais vendam. Por mais cultural que seja, digamos, uma novela de época, se não vender macarrão ou cerveja, ela é retirada do ar.

Se é assim, pode-se concluir que a mídia mais importante do país, a televisão aberta e gratuita, agora prometendo uma imagem perfeita, sem fantasmas ou chuviscos – e com alta resolução de fazer inveja ao DVD – também é escrava do mercado. Tem que vender.

“A boca fala do que está cheio o coração”, diz a Bíblia. No caso, a boca é a televisão, e o coração, o mercado. E o que oferece o mercado? Ora, dirá você, isso todo mundo sabe. O mercado vende casas, carros, aparelhos domésticos e tudo o que a indústria, o comércio e o setor financeiro e de serviços oferecem aos consumidores. Para vender esses bens e serviços, no entanto, o mercado cria necessidades. Necessidades de consumo. O ideal é que se estabeleçam necessidades permanentes.

Então, as novelas e os programas de auditório, ou entrevistas com celebridades, entre tantos outros, ensinam modos e estilos de vida. Claro, pautados pelo mercado. “Afinal, você merece”. Mais importante que vender um carro é transformar você num adepto desse “jeito de ser”. E mais: que você ostente suas “máquinas” aos seus amigos. E que eles morram de inveja. O carro é só um exemplo, claro. Vale para tudo.

Nesse processo de sedução, a mídia abre mão de questões éticas, como a violência gratuita, a erotização precoce, a banalização da morte, da moralidade, dos bons hábitos, da vida simples, da honestidade. Tudo isso fica em segundo plano. Afinal, você, sua alma, seus filhos, seu casamento, são apenas estatística. Só não é suportável ao mercado um cidadão de princípios. Porque uma pessoa de princípios não compra o que não precisa, não consome por impulso, não gasta por prazer, não joga fora o usado em bom estado para comprar um novo, não se endivida com facilidade. Uma pessoa de princípios, por exemplo, resiste mais a ligações inconscientes (mas cuidadosamente sugeridas) entre a mulher sensual e o prosaico colchão que se quer vender.

E quando o cidadão vulnerável rouba para ter o que lhe foi implantado na alma como “absolutamente necessário”; quando ele estupra por não saber distinguir entre a “boa” e a cerveja, bem, ossos do ofício, dirá o mercado; “danem-se; são apenas negócios”.

Chego a pensar que na era da TV digital o evangelista fica em desvantagem. Ele anuncia o seu “produto” sem recorrer a esses artifícios “motivadores” subliminares. Se pudéssemos dizer que o céu é cheio de mulheres bonitas, tem um rio de mel e outro de coalhada... Mas isso é outro evangelismo.

Em momentos como esses importa voltar às escrituras e lembrar que o evangelho “é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16). Cabe-nos manter nossas vidas irrepreensíveis, para que o evangelho não venha a ser censurado. Cabe-nos dizer: venham ver o que o Senhor tem feito em minha vida (Jo 4:42).

Essa fé simples já seria suficiente. Mas não é só. Dispomos do poder de Pentecostes (At 1:8) e do poder da proximidade física e afetiva. Nada supera o poder de convencimento de uma vida aberta. Nenhuma mídia suplanta o exemplo de um pai, de uma mãe. Nenhuma propaganda é mais forte que o testemunho de quem trabalha na mesa ao lado, por anos a fio.

Não desanimemos. Temos a nosso favor o modelo de comunicação por excelência: a encarnação. Esse nascer junto, esse estar próximo, esse amor altruísta, dadivoso e sacrificial, que sabe o nome, que conhece a vida, que tem compaixão, que lava pés. Essa proximidade amorosa faz-nos parecidos com Cristo. Transforma-nos em ministros da reconciliação. Isso é comunicação verdadeira, pois tem coisas em comum. Isso a mídia jamais poderá imitar.

 

rubem-amorese

 

 

Prateleira

Este é o homem a quem olharei...

0-este-e-o-homem-a-quem-olharei

"Treme da minha palavra...", Isaías 66:1-2

Como isto te parece? O Altíssimo, busca atentamente algo nos homens, algo cujo valor transcende as iguarias dos príncipes desta terra.